CONFERINȚELE DIN PORTUGALIA

Mihaela Mihai, António Sousa Ribeiro, Adrian Cioflâncă

Adrian Cioflâncă, Ioan Stanomir
Virgil Mihaiu
Processos de memória política: Roménia e Portugal em diálogo
19 a 22 de junho de 2012
Enquadramento

Os regimes ditatoriais aprisionam, raptam, espiam, torturam e matam. Os crimes praticados pelos regimes totalitários são dos mais diversos; das formas leves de coerção - restrições à liberdade de movimento e expressão, expropriação, negação de serviços públicos  - até genocídio. Tais abusos dão origem ao ódio moral, ao ressentimento e à indignação para com os agressores, e destes em relação aos testemunhos e às vítimas. Uma vez os regimes autoritários chegados ao fim, as instituições são confrontadas com o legado duma história recente de medo e opressão e com uma série de perguntas cruciais. Este passado deveria receber uma voz ou deveria ser silenciado? A raiva das vítimas deveria ser contada  ou suprimida? As contas com o passado devem permanecer fechadas para manter a paz ou devem ser acertadas para fazer justiça?

O que deve ser feito com um passado recente repleto de vítimas, criminosos, corpos secretamente enterrados, medo arreigado e recusa oficial? Deverá este passado ser exumado, preservado, reconhecido ou desculpado? Como pode uma nação de inimigos formar uma união, antigos adversários reconciliados, no contexto de uma história tão violenta e, muitas vezes, de feridas ainda por sarar? O que deverá ser feito com milhares de criminosos ainda em liberdade? E como pode um novo governo impedir que tais atrocidades sejam perpetradas no futuro?

Os eventos tentam responder a estas perguntas da perspectiva de dois países que, no século XX, passaram por ditaduras: Portugal e Roménia. Através de conversas entre historiadores e politólogos esperamos criar um diálogo produtivo entre as duas experiências históricas.


PROGRAMA
19 de junho | 21h30
Exibição do Documentário “48” [2010, 93’] de Susana Sousa Dias.
Bar do Teatro da Cerca de São Bernardo (TCSB), Coimbra.
Comentários: Paula Meneses  e Miguel Cardina

20 de junho | 21h30
Exibição do Documentário “Amfiteatre si inchisori | Anfiteatros e Prisões” [2010, 50’ | Romeno. Dobrado em Inglês] de Nicolae Margineanu
Bar do Teatro da Cerca de São Bernardo (TCSB), Coimbra
Comentários: Ioan Stanomir (Universidade de Bucarestee) e Adrian Cioflâncă  (Conselho Nacional para o Estudo dos Arquivos da Securitate)
21 de junho | 17h00
Conferência "Coming to Terms with Dictatorial Past: Lessons from Romania"
Adrian Cioflâncă (Conselho Nacional para o Estudo dos Arquivos da Securitate)
CES-Coimbra, Sala 1
Introdução: Mihaela Mihai | Interlocutor: António Sousa Ribeiro

22 de junho | 18h00
Conferência "Democracia, memória e justiça moral: Roménia confronta o seu passado comunista"
Ioan Stanomir (Universidade de Bucareste)
Fundação Mário Soares, Lisboa
Interlocutor: Mário Soares | Moderador: António Costa Pinto
 

Ioan Stanomir, Mário Soares, António Costa Pinto
  Coorganização: Instituto Cultural Romeno em Lisboa (ICR), Centro de Estudos Sociais da UC (Iolanda Vasile e Mihaela Mihai - Núcleo de Estudos sobre Democracia, Cidadania e Direito | DECIDe) e Fundação Mário Soares

Ecou în presă: Os silêncios que incomodam a Roménia

Terça, 26 de Junho de 2012
por Acabra .Net
http://acabra.net/artigos/os-silncios-que-incomodam-a-romnia

A Roménia e o período de transição para a democracia iniciado na “Revolução de 89” foi o ponto de partida para a conferência realizada no Centro de Estudos Sociais de Coimbra. O desvanecimento na sociedade atual romena de um passado ditatorial comunista e o evitar da sua discussão. Por António Cardoso
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O processo de transição na Roménia revelou-se “extremamente problemático” Foto por D.R.
“Aparentemente, na sociedade romena há demasiados silêncios. E a questão perturbadora é essa”, alerta o professor catedrático do Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, António Sousa Ribeiro, ao passo que defende ser o trabalho da democracia o “fazer falar esses mesmos silêncios e não deixar que se instalem”.

Considerando por isto o tema da transição democrática “absolutamente central para as sociedades da nossa época”, o também interlocutor da conferência Coming to terms with Dictarorial Past: Lessons from Romania, Sousa Ribeiro, justifica o porquê da problemática da Roménia ser agora discutida. Aborda-se a democracia, a configuração de regimes políticos e, acrescenta, “neste caso particularmente, de como é que se transita de uma ditadura para uma democracia e quais os meios de construção de algo diferente”.

A conferência, promovida pelo Núcleo de Estudos sobre Democracia, Cidadania e Direito (DECIDe) teve lugar no Centro de Estudos Sociais (CES) de Coimbra no passado dia 22 e encontra-se inserida no ciclo de eventos “Processos de memória política: Roménia e Portugal em diálogo”. pelo CES, pelo Instituto Cultural Romeno e pela Fundação Mário Soares, a sessão teve como convidado o historiador e membro do Conselho Nacional para o Estudo dos Arquivos de Securitate em Bucareste, Adrian Cioflâncă.

Um processo de transição na Roménia, que segundo Sousa Ribeiro, se revelou “extremamente problemático”. Sendo a democracia parlamentar romena construída, em parte, por pessoas implicadas no regime comunista de Ceuasescu, este facto acabou por trazer para a atualidade problemas sociais e políticos, como o antissemitismo. Uma vez reunido o consenso face a uma transição mal sucedida, o tema merece reflexão no panorama da sociedade romena.

O regime comunista nas décadas de 60, 70 e 80
No entanto, é importante contextualizar que, nas décadas de 60 e 70, o regime comunista instalado no país era visto com contentamento: “as pessoas focavam-se mais nas suas vidas e o próprio regime colocava menos pressão na sociedade” declara Adrian Cioflâncă. Duas décadas que reportam um sentimento de nostalgia em pelo menos metade da população romena, que “foi diretamente beneficiada pelas medidas de modernização tomadas pelo governo”, acrescenta o historiador. Em contraponto, os anos 80 apresentam uma mudança, revelando-se problemáticos, a partir do momento em que “metem o acento de novo na ideologia”, diz Cioflâncă, sendo atribuído um carácter especialmente inaceitável nessa altura. Todavia, a verdade é que apenas uma minoria assume ter sofrido uma repressão direta e violenta, diz ainda.

Um outro ponto explorado trata da criação de comissões como a The International Commission on Holocaust in Romania (de 2003-2004) e a The Presidential Commission for the Analysis of the Communist Dictatorship in Romania (de 2006), destinadas a documentar o envolvimento nas políticas e métodos terroristas utilizados pelo regime comunista ditatorial contra a sociedade. Em geral, os relatórios finais das duas comissões ofereceram terreno para reconhecer a participação da Roménia no Holocausto e a condenação simbólica da ditadura comunista.

Na opinião da também coordenadora do DECIDe, Iolanda Vasile, é importante e fundamental “trazer à luz um passado recente e desenterrar certos acontecimentos que se sucederam há quase 23 anos”.

“Não queremos uma história oficial”
O facto dos órgãos internos romenos não possuírem uma história oficial sobre o seu passado comunista, particularmente sobre o período da “Revolução de 1989”, remete para uma outra problemática: a de não haver uma memória pública que possa ser partilhada.  “Essa memória pública só pode surgir quando houver um espaço de discussão aberto que passa por muitos aspetos, inclusive pela questão da educação”, assegura António Sousa Ribeiro.

Por outro lado, Adrian Cioflâncă acredita “ser benéfico” para os romenos o “choque de diferentes interpretações de memórias”, por isto que por não quererem “uma versão única do passado e de como as coisas aconteceram antes de 1989. “Não queremos uma história oficial”, certifica Cioflâncă. Sousa Ribeiro contrapõe, defendendo que uma “história oficial não trata de criar ou pensar em pensamentos unanimistas”.

Espaço público de discussão
presença de “um espaço público de discussão livre e de partilha” e o “papel dos intelectuais na sociedade” é visto como “fundamental” para António Sousa Ribeiro.

Adrian Cioflâncă, “o discurso dos intelectuais públicos é muito normativo no discurso do passado”, o que resvala numa “perspetiva ética de condenar e criticar a altura em que não havia liberdade de todo”.

Com Maria Garrido

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